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Atendimento ginecológico para mulheres autistas: um olhar especializado e acolhedor

A saúde da mulher autista demanda um cuidado individualizado e atento às suas particularidades.

E para abordar esse tema tão importante e ainda pouco discutido, conversamos com a Dra. Bruna Obeica, ginecologista com consultório no Centro do RJ e especializada no atendimento de mulheres neurodivergentes.

Nesta entrevista exclusiva, ela compartilha insights valiosos sobre como tornar o atendimento ginecológico mais acolhedor e efetivo para mulheres no espectro autista.

Então, espero que você aproveite cada detalhe desta entrevista que promete trazer reflexões importantes para a prática clínica.

Por que é tão importante discutir o atendimento ginecológico especializado para mulheres autistas?

A rotina ginecológica é essencial para toda mulher, mas quando falamos da mulher autista, precisamos entender suas particularidades durante uma consulta, para deixar a paciente mais confortável e garantir que o exame ocorra da melhor forma possível.

Infelizmente, esse tema ainda não é muito abordado, talvez pela falta de interesse em individualizar a consulta para esse grupo de pacientes.

É fundamental quebrar esse paradigma, pois a saúde feminina não pode ser padronizada – cada mulher tem suas necessidades específicas que precisam ser respeitadas e atendidas.

Quais são os principais medos e desafios que as mulheres autistas enfrentam no consultório ginecológico?

Toda mulher tem naturalmente algum receio do exame físico e da coleta do preventivo, especialmente quando ouvem relatos negativos de outras pessoas.

Para a mulher autista, soma-se a isso a incerteza do desconhecido – um ambiente novo, um profissional diferente.

Estes podem ser grandes desafios a serem superados.

Além disso, questões sensoriais como luzes muito fortes, sons intensos ou texturas específicas podem gerar desconforto adicional.

Por isso, é importante que o ambiente seja adaptável às necessidades individuais de cada paciente.

Como uma mulher autista pode se preparar para uma consulta ginecológica?

Vivemos em uma era digital onde praticamente tudo está disponível online.

Minha principal recomendação é: pesquise e conheça o profissional e o lugar que vai te atender!

Se ainda assim a ansiedade persistir, faça uma visita prévia ao consultório.

É importante lembrar que quem controla o ritmo da consulta é você.

Se preferir deixar o exame físico para uma próxima vez, está tudo bem!

Uma dica valiosa é criar uma lista de dúvidas e preocupações antes da consulta – isso ajuda a não esquecer pontos importantes durante o atendimento.

Que adaptações são importantes durante o atendimento?

É fundamental entender que a mulher ou menina autista pode ser mais introspectiva, e isso é perfeitamente normal.

Como profissional, procuro explicar detalhadamente cada etapa do exame com antecedência e sempre pergunto se posso prosseguir.

Ter controle sobre a situação ajuda a relaxar e permite um exame melhor.

Além disso, incentivo a presença de um acompanhante de confiança – às vezes, precisamos daquele apoio extra de um amigo ou familiar!

Também é importante considerar adaptações sensoriais, como diminuir a intensidade das luzes, manter um ambiente silencioso e permitir o uso de objetos de conforto durante a consulta.

Como lidar com as questões sensoriais durante o exame ginecológico?

Cada paciente tem suas particularidades sensoriais.

Por isso, antes do exame, conversamos sobre o que pode causar desconforto – seja o toque do instrumental, a temperatura do ambiente ou mesmo o cheiro característico do consultório.

Podemos fazer adaptações como aquecer o espéculo, usar lubrificante extra, ou mesmo realizar técnicas de respiração para ajudar no relaxamento.

O importante é que a paciente se sinta à vontade para expressar suas necessidades.

Em que idade é recomendado iniciar as visitas ao ginecologista para meninas autistas?

O ideal é iniciar logo após a primeira menstruação, para que possamos auxiliar nessa passagem tão delicada na vida de toda mulher.

Existem literaturas específicas sobre menstruação, mas o importante é ser objetiva na comunicação.

A ginecologia está aqui para ajudar com informação e suporte.

Recomendo começar com consultas mais simples, focadas na construção de vínculo e confiança, antes de realizar qualquer exame físico.

Que sinais as mães devem observar em suas filhas que indicam a necessidade de uma consulta?

É importante ficar atenta quando o ciclo menstrual não vem regularmente – por isso recomendo anotar as datas.

Também deve-se observar mudanças bruscas de humor durante o período menstrual, que podem indicar síndrome disfórica pré-menstrual, uma condição tratável.

Aumento do fluxo menstrual ou queixas recorrentes de dor também são sinais importantes.

Além disso, alterações no padrão de sono, mudanças significativas no apetite ou isolamento social durante o período menstrual merecem atenção especial.

Como trabalhar a autonomia no cuidado com a saúde íntima?

O desenvolvimento da autonomia é um processo gradual e individual.

Começamos com orientações básicas sobre higiene íntima, usando linguagem clara e objetiva.

Podemos criar rotinas visuais com passos específicos para o autocuidado, respeitando o tempo de aprendizado de cada pessoa.

É importante celebrar cada conquista nesse processo.

Como estabelecer uma comunicação efetiva durante o acompanhamento ginecológico?

O ginecologista deve ser visto como um aliado nesse momento importante, alguém imparcial que visa o bem-estar da paciente.

É fundamental ter paciência – esse é um atendimento que demanda mais tempo e cuidado na explicação.

Quando falamos sobre saúde íntima, procuro ser objetiva e usar exemplos práticos para garantir a compreensão.

O uso de recursos visuais e materiais educativos adaptados pode facilitar muito a comunicação.

Que mensagem final você deixaria para mulheres autistas e mães que ainda têm receio de buscar atendimento?

Minha principal mensagem é: pesquisem!

Sei que nem todos os profissionais podem ser os mais adequados, mas existe alguém que será ideal para você.

É importante não desistir de buscar um atendimento que respeite suas particularidades e necessidades.

A saúde ginecológica é um direito de toda mulher, e com o profissional certo, pode ser uma experiência muito mais tranquila e positiva do que se imagina.

Conclusão

Se você curtiu o artigo e deseja conhecer um pouco mais o trabalho da Dra. Bruna Obeica, acesse o site https://www.drabrunaobeica.com.br ou visite o perfil no Instagram @drabrunaobeica.

Até a próxima!

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