O câncer de colo do útero é um dos tipos de câncer mais comuns entre as mulheres no Brasil e no mundo.
Diferente de outros tipos de câncer, conhecemos bem seu principal causador: o HPV (papilomavírus humano).
O HPV é um vírus que se transmite principalmente pelo contato íntimo durante relações sexuais.
Existem mais de 200 tipos diferentes desse vírus, mas apenas alguns são considerados de alto risco para o desenvolvimento de câncer.
E quando uma pessoa é infectada pelos tipos de alto risco, podem surgir lesões que, se não tratadas, podem evoluir para um câncer com o passar dos anos.
A boa notícia é que hoje contamos com ferramentas poderosas de prevenção: a vacina contra o HPV e os exames preventivos.
No entanto, novos estudos mostram que precisamos ampliar nossa visão sobre a prevenção, incluindo também os parceiros sexuais nessa estratégia.
Uma nova perspectiva na prevenção do câncer de colo do útero
Você sabia que o HPV (papilomavírus humano) é a infecção sexualmente transmissível mais comum no mundo?
Estima-se que cerca de 85% das mulheres e 90% dos homens terão contato com esse vírus até os 45 anos de idade.
Embora muitas dessas infecções sejam temporárias e desapareçam sozinhas, algumas podem persistir e causar lesões que, se não tratadas, podem evoluir para câncer.
Uma pesquisa recente, publicada em março de 2025 na conceituada revista científica European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, traz novos dados que podem mudar a forma como prevenimos o câncer de colo do útero.
O estudo foi realizado na França e revela uma informação importante: existe uma relação entre as lesões de alto grau no colo do útero em mulheres e lesões no pênis dos seus parceiros sexuais.
O HPV pode ficar “adormecido” no organismo por anos sem causar sintomas perceptíveis.
Isso significa que uma pessoa pode estar infectada e transmitindo o vírus sem saber.
Essa característica silenciosa do HPV torna ainda mais importante considerar o papel dos parceiros na cadeia de transmissão.
O que o estudo descobriu?
A pesquisa, realizada entre fevereiro de 2022 e dezembro de 2023, analisou 196 casais nos quais as mulheres tinham diagnóstico de lesões pré-cancerosas no colo do útero (chamadas de lesões intraepiteliais de alto grau ou LIEAG).
Os parceiros dessas mulheres foram examinados com técnicas especiais para detectar possíveis lesões no pênis.
Os resultados foram surpreendentes:
- Em 33% dos casos, foram encontradas lesões no pênis dos parceiros;
- Todas essas lesões eram assintomáticas, ou seja, os homens não percebiam nenhum sinal ou sintoma;
- O risco de lesões de alto grau no pênis foi quase duas vezes maior nos parceiros de mulheres com lesões de alto grau no colo do útero;
- A maioria das lesões (86%) estavam localizadas na região da glande do pênis, com algumas na uretra (8%) e no prepúcio (6%)
Os médicos utilizaram técnicas específicas para identificar essas lesões, como a peniscopia (aplicação de ácido acético a 5%) e a meatoscopia (avaliação do meato uretral).
Essas técnicas permitem visualizar lesões que normalmente passariam despercebidas em um exame comum.
É importante ressaltar que, embora o estudo tenha mostrado uma tendência clínica relevante, os dados não alcançaram significância estatística completa.
No entanto, a observação clínica foi considerada importante o suficiente para sugerir uma nova abordagem preventiva.
Por que isso é importante para você?
Atualmente, as estratégias de prevenção do câncer de colo do útero são focadas principalmente nas mulheres, através da vacinação contra o HPV e do exame preventivo (Papanicolau).
No entanto, este estudo mostra que os parceiros sexuais também podem ter um papel importante nessa equação.
Quando uma mulher é diagnosticada com lesões de alto grau no colo do útero, o parceiro pode estar com lesões no pênis sem apresentar qualquer sintoma.
Isso significa que, mesmo após o tratamento da mulher, pode ocorrer reinfecção pelo HPV se o parceiro não for examinado e tratado.
Este “ciclo de reinfecção” pode explicar por que algumas mulheres, mesmo após tratamento adequado, voltam a apresentar lesões no colo do útero.
Além disso, as próprias lesões no pênis, se não tratadas, podem evoluir para condições mais graves, incluindo o câncer de pênis.
Para mulheres com múltiplos parceiros, esta informação também é relevante, pois indica a importância de práticas sexuais seguras e acompanhamento médico regular para todos os envolvidos.
O que você pode fazer?
- Vacinação contra o HPV: Tanto homens quanto mulheres devem ser vacinados, preferencialmente antes do início da vida sexual. A vacina está disponível no SUS para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Para adultos que ainda não foram vacinados, consulte seu médico sobre a possibilidade de vacinação, disponível em clínicas particulares.
- Exames regulares: Mulheres devem realizar o exame preventivo (Papanicolau) conforme orientação médica. A periodicidade geralmente recomendada é anual, mas seu médico pode indicar um intervalo diferente dependendo do seu histórico.
- Consulta em casal: Se você for diagnosticada com lesões de alto grau no colo do útero, converse com seu parceiro sobre a importância dele também passar por uma avaliação médica. A saúde de vocês está interligada, especialmente quando falamos de infecções sexualmente transmissíveis.
- Uso de preservativos: Embora não proteja completamente contra o HPV, o uso de preservativos reduz o risco de transmissão. É uma medida importante, especialmente em relacionamentos não monogâmicos ou recentes.
- Comunicação aberta: Converse com seu parceiro ou parceira sobre histórico de saúde sexual. A comunicação é uma ferramenta poderosa na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Entendendo as lesões causadas pelo HPV
As lesões causadas pelo HPV são classificadas como de baixo ou alto grau, dependendo do risco de evolução para câncer.
As lesões de baixo grau frequentemente regridem espontaneamente, enquanto as de alto grau têm maior potencial de progresso para malignidade.
No colo do útero, estas lesões são chamadas de lesões intraepiteliais escamosas (LIE) e são detectadas pelo exame de Papanicolau e confirmadas por colposcopia e biópsia.
Nos homens, as lesões podem aparecer como pequenas manchas brancas após aplicação de ácido acético, verrugas, ou áreas pigmentadas no pênis.
O mais preocupante é que, como mostrou o estudo, muitas dessas lesões em homens não apresentam sintomas visíveis e só podem ser detectadas com exames específicos realizados por um médico urologista ou dermatologista.
Uma nova abordagem na prevenção
Este estudo sugere a necessidade de uma abordagem mais abrangente na prevenção do câncer de colo do útero, incluindo a avaliação dos parceiros sexuais de mulheres com lesões de alto grau.
A Dra. Ana Ximena Zunino está atenta a essas novas descobertas e já começou a implementar protocolos que incluem a orientação para que os parceiros também sejam avaliados quando necessário.
A integração entre as especialidades de ginecologia e urologia torna-se cada vez mais importante nesse cenário.
A cada avanço científico, fica-se mais próximo de compreender completamente como o HPV afeta homens e mulheres, e como podemos interromper a cadeia de transmissão e reinfecção.
O estudo francês é mais um passo importante nessa direção, nos lembrando que a prevenção do câncer de colo do útero deve ser vista como uma responsabilidade compartilhada.
Lembre-se: a prevenção é sempre o melhor caminho! Agende a sua consulta, mantenha seus exames em dia e converse abertamente com seu parceiro sobre a importância dos cuidados com a saúde sexual de ambos.
Este artigo foi elaborado com base em estudo publicado no European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology (março 2025)
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